sábado, 10 de fevereiro de 2024

Estudo comportamental de um casal de arara - azul - grande, Anodorhynchus hyacinthinus (Latham, 1790) mantidas em cativeiro no Parque Zoobotânico Vale na Floresta Nacional de Carajás, ´ Pará, Brasil

 

Olá Araras Azuis! Hoje eu vim compartilhar com vocês um artigo acadêmico escrito por F. R. P. Pimenta, Acadêmica da Universidade do Estado do Pará - UEPA, sobre o comportamento de um casal de arara azul grande. Este artigo é essencial para quem quer saber mais sobre o comportamento dessas aves. Então, vamos para o artigo.

- Area de Estudo

´ O estudo foi desenvolvido no Parque Zoobotˆanico Vale em Caraj´as (PZV) localizado na Floresta Nacional de Caraj´as, munic´ıpio de Parauapebas, PA. Tendo sido criado em 1985, apresenta atualmente, uma ´area total de 30 ha, abrigando aproximadamente 240 animais de 60 esp´ecies da fauna brasileira. A Floresta Nacional de Caraj´as ocupa uma ´area de 3.958.226,70 ha, apresentando as seguintes coordenadas geogr´aficas (05º52”e 06º33”S, e 49º53”e 50º45”W) `a 25 km do munic´ıpio de Parauapebas, estado do Par´a, na Regi˜ao Norte do Brasil. Est´a inserida no complexo das ´areas protegidas da regi˜ao de Caraj´as, composto por unidades de conserva¸c˜ao integral ou com diversos usos como manejo sustentado de produtos de fauna e flora, atividades minerarias, uso tradicional agr´ario e prote¸c˜ao de popula¸c˜oes aut´octones. (IBAMA et al., 2004). O clima na regi˜ao ´e tropical ´umido, com inverno seco. A precipita¸c˜ao pluviom´etrica configura dois per´ıodos: esta¸c˜ao chuvosa, de novembro a abril, e esta¸c˜ao seca, de junho a outubro. A precipita¸c˜ao m´edia mensal na esta¸c˜ao chuvosa ´e 280 mm e da esta¸c˜ao seca ´e 32 mm. A temperatura m´edia anual em Caraj´as ´e de 23,80C. (IBAMA et al., 2004). 2.2 - Etograma No Parque Zoobotˆanico Vale em Caraj´as, o recinto das araras - azuis est´a posicionado entre outros cativeiros como ararajubas, tucanos e papagaios etc. As araras - azuis s˜ao mantidas em uma ´area com 16 m 2 , contendo um ninho, dois poleiros e um reservat´orio com ´agua e comida. O ninho constitui - se de um abrigo elaborado com troncos de madeira em que as araras utilizam para pernoitar. A pesquisa foi desenvolvida a partir da observa¸c˜ao de um casal de arara - azul - grande, no per´ıodo de abril a maio de 2009. A t´ecnica de amostragem utilizada para observa¸c˜ao foi animal focal (Focal Animal Sampling), que segundo Altnann(1974) ´e uma das mais empregadas em estudos de comportamentos para animais que permitem a boa aproxima¸c˜ao do observador.

No etograma foram identificadas e descritas 69 condutas comportamentais, baseadas em relatos descritos na literatura para psitac´ıdeos e tucan´ıdeos. As condutas foram agrupadas nas categorias ”deslocamento”, ”manuten¸c˜ao”, ”comportamento intra - espec´ıfico”e ”uso dos enriquecimentos ambientais”e foram descritas a partir da morfologia dos comportamentos observados. A an´alise comportamental foi realizada no per´ıodo diurno, conforme o hor´ario habitual de manejo dos tratadores no PZV a partir da primeira alimenta¸c˜ao do dia do casal, compreendendo o per´ıodo das 7:00 `as 17:00 horas. Nos intervalos pr´e - estabelecidos, os comportamentos foram classificados e quantificados, seguindo uma planilha padronizada de categorias comportamentais de Anodorhynchus hyacinthinus em cativeiro. Para todas as categorias experimentais realizou - se um fluxograma e para a an´alise dos dados utilizou - se a m´edia da freq¨uˆencia de ocorrˆencia dos comportamentos. O estudo foi dividido em duas etapas: a primeira abordou o levantamento dos comportamentos de acordo com a categoria e a segunda analisou a conduta a partir da adi¸c˜ao de enriquecimento ambiental (telha, sementes de castanha - do - par´a enroladas no jornal, palha de a¸ca´ı e palha verde). Inicialmente foi realizada uma fase de adapta¸c˜ao com os indiv´ıduos para observa¸c˜oes preliminares. Na primeira etapa foram realizadas 17 janelas de observa¸c˜ao di´arias com dura¸c˜ao de 10 minutos para cada indiv´ıduo, durante 15 dias consecutivos, totalizando 42 horas e 50 minutos/individuo. Na segunda etapa foram realizadas tamb´em 17 janelas de observa¸c˜ao di´arias, por´em com dura¸c˜ao de 20 minutos para cada indiv´ıduo, durante 15 dias consecutivos, totalizando 85 horas/individuo. A an´alise comportamental foi realizada no per´ıodo diurno, conforme o hor´ario habitual de manejo dos tratadores no PZV a partir da primeira alimenta¸c˜ao do dia do casal, compreendendo per´ıodo de 7:00 ´as 17:00 horas. Nos intervalos pr´e - estabelecidos, os comportamentos foram classificados e quantificados, seguindo uma planilha padronizada de categorias comportamentais de Anodorhynchus hyacinthinus em cativeiro. Para todas as categorias experimentais realizou - se um fluxograma e para a an´alise dos dados utilizou - se a m´edia da freq¨uˆencia de ocorrˆencia dos comportamentos.

RESULTADOS 

Na primeira etapa do etograma, na categoria de deslocamento os comportamentos favoritos foram ”Andar na tela”(23,7%, n=386), ”Parar no galho”(22,4%, n=266), seguida por ”Parar na tela”(17,2%, n=204). As categorias menos utilizadas foram ”Parar no solo”(0,2%, n=2), ”De ponta cabe¸ca”(0,4%, n=5) e ”Abaixar”(0,9%, n=11). Quando os animais deslocam - se, s˜ao movidos em fun¸c˜ao de um est´ımulo que, em grande parte das vezes, esteve representado pela alimenta¸c˜ao, ir ao encontro do parceiro ou aproxima¸c˜ao de pessoas do recinto. (Prestes, 2000). Os comportamentos de manuten¸c˜ao mais observados foram ”Vocalizar”(34,5%, n=1126), ”Sacudir penas”(9,9%, n=332) e ”Repousar cabe¸ca sobre o dorso”(5,9%, n=198). O comportamento intra - espec´ıfico mais comum foi o de ”Levantar cauda para parceiro”(29,1%, n=123), enquanto que o menos notado foi ”Ser bicado”(0,7%, n=3).  Na segunda etapa do etograma, realizada com enriquecimento ambiental, para a categoria de deslocamento os favoritos foram tamb´em ”Andar na tela”(24,2%, n=244), ”Parar no galho”(20,3%, n=205), seguido por ”Andar sobre o galho”(12,8%, n=129). Os comportamentos de manuten¸c˜ao mais observados foram ”Vocalizar”(33,6%, n=511), ”Repousar cabe¸ca sobre o dorso”(12,9%, n=196) e ”Sacudir as penas”(10,1%, n=154). A adi¸c˜ao do enriquecimento ambiental com ”sementes de castanha - do - par´a enroladas no jornal”promoveu um aumento do deslocamento dos animas em rela¸c˜ao aos demais enriquecimentos introduzidos no recinto, uma vez que o objeto despertou o interesse na procura da castanha atrav´es da busca ativa do animal para localizar o alimento. Os comportamentos de ”Andar na tela”, ”Vocaliza¸c˜ao”e ”Levantar cauda para parceiro”destacaram - se em ambas as etapas. Segundo Guedes et al., (1992), estes comportamentos est˜ao associados `a demarca¸c˜ao do territ´orio em cativeiro. As araras - azuis indicam o seu posicionamento na tela atrav´es da vocaliza¸c˜ao, caracterizando assim o comportamento de defesa do ninho diante de poss´ıveis intrusos. A presen¸ca de inimigos desencadeia respostas agressivas tanto na natureza (Guedes, 1995), quanto em cativeiro. Na natureza as araras - azuis n˜ao abandonam o ninho na presen¸ca do pesquisador e nem de grandes aproxima¸c˜oes humanas (Guedes, 1995). No entanto, no presente estudo, com a aproxima¸c˜ao de visitantes no recinto os animais se locomoveram do ninho para as telas do recinto. Segundo Hansen (2005), pode - se identificar uma dominˆancia de um individuo, sobre seu parceiro e, principalmente, sobre o ”dom´ınio”do recinto. Isso justifica o comportamento do macho, pois esse sempre foi o primeiro a ir buscar o alimento. Por´em, quando ocorria alguma intera¸c˜ao de agressividade dentro do recinto, a fˆemea apresentava um deslocamento at´e a tela (”Andar na tela”, Fˆemea-27,9%, n=387; Macho-30%, n=243) e provocava uma intera¸c˜ao rec´ıproca com o macho. Registrou - se tamb´em que a fˆemea deslocava - se at´e o poleiro mais alto do recinto (”Parar sobre o galho”, Fˆemea - 21,8%, n=302; Macho-20,8% = 169) que, teoricamente, ´e de ”dom´ınio”do individuo (Sick, 1997). A fˆemea utilizou com mais freq¨uˆencia a tela, que pode ser considerada no cativeiro como o limite da ´area de ocupa¸c˜ao, conseq¨uentemente exercendo deste modo a defesa territorial. Observou - se que a fˆemea apresenta um comportamento mais agressivo comparado ao do macho. Durante o manejo alimentar ou aproxima¸c˜ao de pessoas no recinto, a fˆemea exibia comportamentos estereotipados, como de constante deslocamento, bicadas na grade e vocaliza¸c˜ao constante. Na avalia¸c˜ao geral do estudo foram observadas 69 categorias comportamentais atrav´es do registro do etograma, totalizando 255 horas de observa¸c˜ao. Dessas condutas, foram descritas categorias padr˜oes de manuten¸c˜ao, deslocamento e relacionamento intra - espec´ıfico comportamentais. A categoria que apresentou maior porcentagem foi a de ”Manuten¸c˜ao”, totalizando 56,2% (n=3359), seguida por 36,8% (n=2198) com ”Deslocamento”. Os dados de Prestes (2000) corroboram com os observados na presente pesquisa, tendo em vista a observa¸c˜ao de comportamentos semelhantes com freq¨uˆencias pr´oximas para papagaio - char˜ao (Amazona pretrei) cativo. No comportamento de manuten¸c˜ao identificou - se 38 condutas, sendo as mais observadas ”Vocalizar”(34,5%, n=1126), ”Sacudir penas”(9,9%, n=332) e ”Repousar cabe¸ca sobre o dorso”(5,9%, n=198). Na categoria de deslocamento identificou - se 18 condutas, onde as preferidas foram ”Andar na tela”(28,7%, n=630), ”Parar no galho”(21,4%, n=471), seguida por ”Parar na tela”(13,1%, n=287). As menos utilizadas foram, ”Em cima da caixa - ninho”(0,2%, n=4), ”Ir para o solo”(0,3%, n=6) e ”Pular de um galho para outro”(0,3%, n=7). No comportamento intra - espec´ıfico identificou - se 13 condutas, sendo constatado que a mais comum foi ”Levantar cauda para parceiro”(29,1%, n=123), enquanto ”Ser bicado”(0,7%, n=3) foi a menos comum.

CONCLUSÃO

Animais cativos s˜ao geralmente mantidos com uma limita¸c˜ao de espa¸co e recursos a serem utilizados para sua rotina de vida, reduzindo os seus h´abitos, contribuindo para o desenvolvimento de alguns padr˜oes de comportamento estereotipados. Os comportamentos registrados do casal de arara - azul - grande (Anodorhynchus hyacinthinus) poder˜ao contribuir para o planejamento de recintos atrav´es do uso de enriquecimentos ambientais, promovendo o bem - estar animal e a conserva¸c˜ao da esp´ecie.

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