quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Conheça o Maracanã uma das Menores Espécies de Araras que Existe!


 Olá, Araras Azuis!! Hoje eu vim mostrar para vocês uma espécie de arara bem pequena, igual à ararinha azul. Muitos não conhecem essa espécie, mas vim apresentar a vocês o Maracanã (Ara nobilis), também conhecido como ararinha verde.A Ara Nobilis , é a mais pequena de todas as araras, medindo cerca de 30cm. Possuem cor vermelha na ponta das asas, tendo o resto do corpo coberto predominantemente com verde, e uma plumagem azul na zona da cabeça .As partes inferiores das asas e da cauda têm cor amarela A face é de cor branca e desprovida de penas , pelo que pode ficar com um tom mais encarnado quando o animal se encontra excitado, devido ao maior fluxo sanguíneo. O Bico é preto.Medem apenas 30 cm de comprimento, sendo as mais pequenas representantes das araras. Não existe dimorfismo sexual. A plumagem tem cor predominantemente verde-viva, mas a fronte é azulada e apresentam uma mancha vermelha na parte superior da dobra das asas (“ombro”). As partes inferiores das asas e da cauda têm cor amarela. Possuem pele nua de cor branca, nas faces. O bico é preto. As patas são zigodáctilas (têm dois dedos virados para a frente e dois dedos virados para trás; em geral, as aves apresentam três dedos virados para a frente e um para trás).
Como na ararinha, o verde domina a plumagem do corpo. Quando as condições de luz permitem, nota-se que o tom é mais claro dessa espécie em relação à anterior. É também menor. Pousada ou em vôo, a principal característica a distingui-la é o branco da parte superior do bico, o qual se conecta ao branco da pele nua ao redor dos olhos. Como a parte de baixo do bico é negra e o resto da cabeça verde, forma-se uma grande área de branco puro na cabeça.

Por baixo das asas em vôo, aparece uma mancha vermelha próxima à ponta. Essas penas vermelhas, algumas vezes, são visíveis com a asa fechada, sob a forma de um ponto ou mancha vermelha na dobra da mesma.

Embora seja freqüente nas matas ribeirinhas e matas secas do Pantanal, é muito menos comum que a ararinha. Como essa, vive aos casais no período reprodutivo e forma grupos após essa fase. Seus grupos, no entanto, são maiores e mais barulhentos do que os da ararinha. Em vôo, os gritos de contato são mais agudos e constantes.

Faz seus ninhos em ocos de árvores, com postura de 4 ovos. Choca durante 24 dias e os filhotes voam com os pais após o segundo mês de vida. Buscam seu alimento na copa das árvores, apanhando frutos e flores.

É observada nos seus longos deslocamentos matinais e vespertinos entre os pontos de dormida e alimentação, os quais cobrem toda a área da reserva. Pode ser mais facilmente encontrada nas matas ribeirinhas dos rios Cuiabá e São Lourenço, bem como nos cerradões da parte norte da RPPN.

O nome maracanã é tupi, sendo comum a várias espécies de araras pequenas em todo o Brasil. Ficou famoso com a denominação do maior estádio de futebol do mundo, no Rio de Janeiro, oriundo do nome do riacho Maracanã, localizado em suas proximidades.

Reprodução:
Nidificam em ocos de árvores e em termiteiras arbóreas. A postura é de cerca de quatro ovos, que são incubados durante 24 dias apenas pela fêmea. As crias são altriciais (totalmente dependentes dos pais durante os primeiros tempos de vida). Os juvenis só saem do ninho depois dos dois meses de idade.Na natureza costumam nidificar em cavidades em árvores. As fêmeas põem geralmente 4-5 ovos em cada postura, sendo a incubação de cerca de 25 dias. As crias abandonam o ninho aos 2 meses. A característica mais marcante no que toca à reprodução , é que regra geral podem reproduzir em comunidade, mantendo-se sociaveis .

Distribuição e Habitat:Reconhecem-se, atualmente, três subespécies nesta espécie sul-americana, entre as quais Ara nobilis nobilis, que se encontra no Leste da Venezuela, nas Guianas e no Norte do Brasil e que está representada no Zoo de Lisboa. As outras duas subespécies distribuem-se pelo Nordeste e Centro do Brasil, o Sudeste do Peru e o Nordeste da Bolívia. As araras-nanicas vivem em savanas dos tipos “cerrado” e “catinga”, em florestas de galeria, zonas pantanosas com palmáceas (dos géneros Mauritia ou Orbignya), em florestas secundárias e em terrenos de cultivo adjacentes a zonas florestadas.

Alimentação do Maracanã
Nozes, amendoins, frutas e legumes (pêra, manga, laranja, maçã, ameixas, banana, pepino, milho meio-amadurecido, cenoura, etc), mistura de sementes pequenas e grandes, trigo, aveias, sementes brotadas. Comida de pombo encharcada. Precisa de uma fonte de vitamina regular e suplementos de minerais (especialmente D e B), proteína animal (camarão seco, ovo, carne de galinha e ossos).
Estatuto de conservação e principais ameaças 
A espécie não está globalmente ameaçada (segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza). Pertence ao Apêndice II da CITES. É relativamente abundante na sua área de distribuição e não tem sofrido pressões causadas pela destruição do habitat ou pelas capturas para o comércio ilegal de aves de cativeiro.



terça-feira, 30 de janeiro de 2024

A Alimentação das Araras em Vida Livre!!


 Olá, Araras Azuis! Hoje eu vim falar sobre a alimentação das Araras em vida livre. Irei abordar as três espécies de araras azuis (arara azul grande, arara azul de lear e ararinha azul), também falarei sobreoutras araras, como a arara canindé, arara vermelha e o maracanã. Lembrando que este post tem como referências minhas aulas do curso de auxiliar veterinário e também foi revisado pelos meus professores Akira e Tais. No final, serão apresentadas as fontes de cada conteúdo, sendo que algumas informações foram extraídas do Instituto Arara Azul, slides das minhas aulas e Wiki Aves. Vamos para a postagem então. As araras Alimenta-se de frutos e sementes, os quais variam de uma região para outra. Alguns frutos que fazem parte da sua dieta são a manga, o tamarindo, o jacarandá e o ingá.Cada espécie de arara, devido ao habitat onde vive ou até mesmo por costumes e fisiologias, possui hábitos, gostos e maneiras diferentes de se alimentar, inclusive seletividade alimentar.

Alimentação da Ararinha Azul
As ararinhas-azuis geralmente viajam em pequenos grupos familiares ou pares, caçando comida ao longo dos rios sazonais e nidificando e empoleirando-se juntas nas copas das árvores. durante o dia são ativas, movimentando-se de acordo com os recursos alimentares e disponibilidade de nidificação.As ararinhas-azuis são herbívoros (granívoros, frugívoros)  ela Gosta de comer sementes de pinhão, frutos do juazeiro, além de outros típicos do seu habitat. na natureza, comendo sementes e também frutas. Em cativeiro, eles geralmente são alimentados com uma variedade de sementes, frutas e nozes, bem como importantes suplementos minerais e vitamínicos através do consumo de pequenas quantidades de carne de cacto e casca de árvore. Se vocês não sabem a carne de Cacto é a Flor Cacto.Os frutos e a flor do cacto são alimentos para aves e abelhas, e a polpa serve para o consumo humano em ensopados, massas e bolos. Por causa das secas da Caatinga Os animais que habitam a Caatinga também possuem estratégias para sobreviverem nas condições climáticas locais, sendo altamente adaptados ao clima quente e seco.
No caso das aves  ocorre um processo de migração durante o período de estiagem, uma vez que essas aves migram para regiões mais úmidas como estratégia para sobreviver ao período mais seco da Caatinga. Já as espécies de mamíferos e répteis, por exemplo, buscam regiões mais úmidas da Caatinga, no geral, áreas próximas das fontes de água, e também, zonas de maior altitude, em razão do microclima desses locais, mais ameno e úmido. 
 Alimentação da Arara Azul Grande
A arara-azul-grande apresenta um bico bastante resistente, o qual a auxilia na sua alimentação. Esses animais alimentam-se, principalmente, de frutos de palmeiras, tais como buriti, licuri e macaúba. Geralmente, as araras-azuis são observadas alimentando-se sobre o solo e em bandos, diferentemente da maioria das espécies de araras que se alimenta no topo de árvores. A alimentação em grupo é uma forma importante de proteção. Elas também gostam de comer  frutas, nozes, sementes e néctar. Suas guloseimas favoritas no zoológico incluem castanhas-do-pará, amendoins e cranberries secas.A fêmea é a responsável pela incubação do ovo, que pode durar cerca de 28 dias. Nesse período, o macho fica responsável por alimentá-la. Quando os filhotes nascem, eles são alimentados pelos pais por cerca de seis meses.



 Alimentação da Arara Azul de Lear

A maior parte da dieta da arara-de-lear consiste nas nozes da palmeira nativa Licurí – outro fator que contribui para a distribuição limitada da ave. As palmeiras Licurí são frequentemente cortadas ou queimadas para dar lugar a campos agrícolas, e o gado doméstico, especialmente cabras, derruba as árvores jovens antes que possam crescer novamente.Cada arara-de-lear pode comer até 350 nozes de Licurí por dia, usando seu bico grande e forte para quebrar as cascas duras. Outras frutas e sementes, flores de agave e culturas cultivadas, principalmente milho, complementam a dieta desta ave quando os frutos de palma são escassos. As araras-de-lear comem desordenadamente, constantemente jogando sementes no chão enquanto se alimentam em pequenos grupos. Desta forma, os papagaios ajudam a sustentar as árvores das quais dependem. Outras aves frugívoras, como o tucano-de-bico-de-quilha e o sino-barbudo , também "replantam" árvores dessa forma durante a alimentação.


Alimentação da Arara Vermelha e Arara CanindéAs araras comem uma variedade de frutas maduras e verdes, nozes e sementes, flores, folhas e caules de plantas e fontes de proteínas como insetos e caracóis. Alguns se especializam em comer frutas duras e nozes das palmeiras. Um truque que eles usam para isso é procurar alimentos em campos onde vive o gado. O gado come as nozes de dendê, que passam pelo sistema digestivo e saem pela outra extremidade sem a casca dura da noz. Isso torna as nozes mais macias e fáceis de comer pelas araras! As araras também visitam margens de rios e falésias de solo argiloso, que comem. Os cientistas acreditam que o solo pode neutralizar quaisquer produtos químicos tóxicos que os pássaros possam comer nas sementes ou nos frutos verdes.
Cerca de 20% do que as araras comem consiste em frutas e vegetais. Seus favoritos são bananas, maçãs, frutas vermelhas, pêssegos, passas e melancia quando se trata de frutas, enquanto vegetais como cenoura, tomate, pimentão e batata doce são os preferidos.As araras obtêm suas proteínas comendo insetos como gafanhotos, besouros, baratas e caracóis.as araras comem argila! Isso geralmente é visto em margens expostas de rios em reservas naturais, onde centenas de araras se reúnem diariamente para lamber argila.Embora os pesquisadores não tenham certeza do que causa esse comportamento de lamber a argila, eles acreditam que é uma forma de incluir sódio na dieta.

Alimentação do Maracanã

Nozes, amendoins, frutas e legumes (pêra, manga, laranja, maçã, ameixas, banana, pepino, milho meio-amadurecido, cenoura, etc), mistura de sementes pequenas e grandes, trigo, aveias, sementes brotadas. Comida de pombo encharcada. Precisa de uma fonte de vitamina regular e suplementos de minerais (especialmente D e B), proteína animal (camarão seco, ovo, carne de galinha e ossos).

 




REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS: 
Nutrient requirements of poultry. 9. ed. Washington: National Academy Press, 1994. 176 p.

SCHNEIDER, L. Estudo etológico de arara azul (Anodorhynchus hyancinthinus) no Pantanal de Miranda MS. 2003. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) - Universidade Federal do Mato Grosso do sul, Campo Grande, 2003.

BORSARI, A.; OTTONI, E. B. Preliminary Observations of Tool Use in Captive Hyacinth Macaws (Anodorhynchus hyacinthinus). Animal Cognition, v. 8, p. 48-52, 2005. 

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Notícias: Duas Araras-Azuis-de-Lear são apreendidas em cativeiro no interior de São Paulo!

Olá Araras Azuis!! Hoje eu trago notícias revoltantes sobre o  tráfico de Araras Azuis. Será que já não chega dessa palhaçada? Deixem as Araras em paz!A Guarda Municipal de Mairiporã, interior de São Paulo, apreendeu nesse domingo dois exemplares da Arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), espécie altamente em risco de extinção e que é endêmica do sertão baiano. A apreensão foi realizada ao acaso, quando os guardas municipais ouviram o som das aves e resolveram investigar. As araras estavam sendo mantidas em cativeiro em uma residência no distrito industrial de Terra Petra. Os animais foram encaminhados para um centro de reabilitação. No momento não existem outras informações disponíveis.

Imagem: (Prefeitura de Mairiporã)

Fonte: @renctas

 

Estou Fazendo duas postagens sobre alimentação e nutrição em Araras!!

 

Olá, Araras Azuis! Hoje, venho avisar que estou escrevendo dois artigos sobre a alimentação e nutrição das araras. Irei abordar a alimentação em vida livre e em cativeiro, incluindo zoológicos e pessoas que têm araras como animais de estimação. Além disso, planejo entrevistar minha amiga Luisa, estudante de biologia e tutora de uma arara canindé. Vale ressaltar que esses posts não se limitarão apenas às araras azuis, mas abrangerão também outras espécies de araras. Espero que esta postagem contribua para o conhecimento de todos e proporcione aprendizado sobre nossa biodiversidade e manejo de animais silvestres. As postagens serão publicadas entre hoje e amanhã, ou até mesmo depois, pois só preciso terminar de escrevê-las. Garanto que adicionarei fontes confiáveis, como livros e slides do curso de auxiliar veterinário, e solicitarei a revisão cuidadosa dos meus professores Akira e Tais. 

Lembrando que irei recomendar rações que meus professores recomendam e afirmam serem boas. Na clínica onde eu fazia estágio e no CETAS do meu professor Rafael, essas rações são utilizadas na alimentação das araras e outros psitacídeos. Portanto, podem confiar que nenhuma dessas rações é ruim e apresentam ótimas qualidades para araras em cativeiro.Até logo!

domingo, 28 de janeiro de 2024

A arara-azul-pequena viva ou extinta? A saga contínua

 

Olá Araras Azuis! Hoje eu vim postar um artigo escrito por Tony Pittman e publicado na revista Just Parrots no ano de 1997/8, Edição 19. Este artigo fala sobre a extinta arara azul pequena e questiona se ela está de fato extinta ou se ainda existe algum exemplar. Antes de começar este texto, quero dizer que todos nós sabemos que a arara azul pequena foi extinta na década de 50/60. Não há nenhuma prova de que ela ainda exista, e nenhum exemplar vivo foi encontrado na natureza ou em cativeiro, apenas ilustrações da época e exemplares dessas araras em taxidermia nos museus. Para quem não sabe, a taxidermia é a arte de montar/empalhar animais para estudos científicos ou exibições, utilizando diversas técnicas de preservação, buscando atingir o maior grau de fidelidade possível. Bem, vamos ao post e espero que gostem. Boa leitura! E prometo trazer mais conteúdo sobre a extinta arara azul pequena aqui no blog.O texto foi traduzido por mim. Meu inglês é básico, então, se houver algum erro de tradução, por favor, me avise nos comentários.

No início de julho deste ano (o artigo foi escrito em 1997), encontrei-me inesperadamente sentado em um veículo com tração nas quatro rodas, saltando ao longo de uma estrada de terra no sudoeste do Paraguai, a caminho da área onde o grande Rio Paraguai se junta ao agora muito reduzido fluxo do Rio Paraná. Acompanhado por Margarita Mieres e Cristina Morales, da agência paraguaia de proteção à vida selvagem, bem como por Jorge Escobar, um conhecido ornitólogo paraguaio e guia de campo especializado, encontrei-me mais uma vez em busca da Arara-azul-pequena ( Anodorhynchus glaucus ).

Cinco anos atrás, em julho de 1992, Joe Cuddy e eu empreendemos uma viagem quase épica em um pequeno veículo alugado e depois em ônibus local, viajando pela área de distribuição atribuída à arara-azul-pequena na Argentina, Paraguai e Brasil para estudar o habitat e sua condição. . Depois de examinar todas as evidências disponíveis, cheguei à conclusão de que a arara infelizmente havia sido extinta nos primeiros anos deste século. Escrevi então um relatório, que apareceu sem notas de rodapé na edição de novembro de 1992 da revista Parrot Society e mais tarde, no início de 1995, na revista alemã "Papageien". O relatório completo com notas foi distribuído a alguns ornitólogos importantes e instituições científicas interessadas no final de 1992.

Joe Cuddy e eu já éramos fascinados pela arara-gazul-pequena há algum tempo e estudamos cuidadosamente toda a literatura disponível, publicada e não publicada, nos idiomas originais para evitar erros de tradução e interpolações, bem como a maioria das peles nos museus ao redor do mundo. . Rapidamente descobrimos que a arara-azul-pequena, com sua plumagem geral esverdeada, garganta e pescoço traseiro marrom-acinzentados, era claramente diferente da arara-azul-de-lear ( Anodorhynchus leari ), embora semelhante em tamanho e forma. Assim como a arara-de-lear, ela tinha o distinto olho "sonolento" e uma ruga proeminente na pequena mancha facial nua, que Joe atribui à cabeça muito menor em comparação com a arara-azul-grande(Anodorhynchus hyacinthinus  ), seu parente maior.

A arara-glauca foi mencionada pela primeira vez na literatura pelo missionário jesuíta Sanchez Labrador, em uma obra sobre aves e peixes do Paraguai publicada em 1767. Chamada segundo ele de "guaa obi" em guarani, língua indígena local, ele afirmou que embora rara ao longo do rio Paraguai, esta arara-azul era comum nas matas ao longo da margem oriental do rio Uruguai, que corre entre a Argentina e o Uruguai ao longo da fronteira oriental da província argentina de Corrientes.

Azara descreveu detalhadamente a arara-glauca em 1802, mas menciona ter visto apenas vários pares. D'Orbigny, o grande naturalista francês, visitou a área entre 1827 e 1835. Ele escreveu um relato detalhado de suas viagens, que incluía várias referências a uma arara azul, bem como numerosas referências à "palmeira yatay" ( Butia yatay ), que acreditávamos ser a principal fonte de alimento da arara-azul-pequena. Embora D'Orbigny não tenha mencionado os hábitos alimentares da arara em seu relato, ele enviou uma nota a outro naturalista francês, na qual afirmava que ela se alimentava de grãos de vários frutos de palmeira. Em 1860, Martin de Moussy, outro cientista francês, relatou a presença de uma pequena arara "violeta" na província de Corrientes, que vivia nas palmeiras yatay alimentando-se de seus frutos.

Havíamos procurado a palmeira yatay, que estava quase extinta até o estabelecimento de um parque nacional para a espécie na Argentina em 1965. D'Orbigny havia descrito vastas extensões azuis de palmeiras há mais de 150 anos, mas profetizou que elas iriam todos logo desaparecem porque sua presença indicava terras férteis. Após o advento da navegação a vapor na época de sua partida, a área foi rapidamente colonizada e as palmeiras rapidamente removidas. A área com fronteiras comuns com o Paraguai e o Brasil também sofreu enormes perturbações por causa das operações militares ali nas frequentes insurreições e disputas do século XIX. Nos últimos anos, registaram-se novas perturbações consideráveis ​​com a construção de barragens e grandes obras hidroeléctricas, particularmente nos rios Uruguai e Paraná.

Joe e eu visitamos as áreas mencionadas na literatura, incluindo os locais de nidificação nas margens do rio Itá Ibate, no Paraná, e não descobrimos nenhum habitat adequado para uma arara grande. Conversamos com a população local e mostramos-lhes ilustrações. Ninguém tinha ouvido falar ou visto tal pássaro. No entanto, persistem avistamentos não confirmados e tendo sido informado de que dois ornitólogos japoneses alegaram ter ouvido uma arara recentemente na área úmida ao leste da província de Corrientes, decidi visitar novamente a Argentina e o Paraguai para investigar esses relatos, bem como renovar e promover contatos lá.

Uma delas foi Judy Hutton, que vive há 30 anos numa fazenda perto de Mburucuya, cerca de 150 km (95 milhas) a sudoeste da cidade de Corrientes. Eu lhe havia enviado um fax com antecedência e ela já havia confirmado que acreditava que o relatório dos dois japoneses não tinha fundamento. Depois de voar para Buenos Aires, viajei de ônibus noturno para Corrientes. Depois de ficar dois dias lá peguei outro ônibus para Assunção, capital do Paraguai.

Lá me tornei membro de uma expedição improvisada para investigar relatos da ocorrência da arara no sudoeste do Paraguai. Viajamos para o sul pela rodovia principal até Encarnación, uma importante cidade no sudeste do Paraguai, passando pela cidade de Paraguai até San Juan Bautista, onde deixamos a estrada asfaltada para viajar 144 km (90 milhas) para sudoeste ao longo de uma estrada de terra esburacada até Pilar. Durante a estação chuvosa esta estrada torna-se intransitável e a cidade de Pilar fica isolada do resto do país durante meses, sendo o único contacto com o mundo exterior por via marítima.

Em Pilar nos encontramos com Gustavo Granada, professor da pequena universidade de lá, que nos acompanhou até uma estação de pesquisa em uma fazenda de sua propriedade na região entre os rios Paraguai e Paraná. Ele conhecia bem a região e fez questão de nos mostrar florestas de palmeiras "yatay". No entanto, fiquei surpreso ao encontrar palmeiras baixas – de 3 a 4 metros (10-13 pés) de altura – em vez dos espécimes muito altos que tinha visto na Argentina. Eles também frutificaram por um período muito curto, o que também foi intrigante. No entanto, descobri mais tarde que eles pertenciam a uma espécie intimamente relacionada ao yatay com o nome científico de  Butia paraguayensis , que em outras partes do Paraguai é chamado de forma confusa de "jatai". Perguntei se ainda havia moradores realmente idosos morando na região e Gustavo depois de perguntar aos moradores locais nos levou para conhecer Ceferino Santa Cruz, um cotonicultor de 95 anos, no pequeno vilarejo de Lomas. Ele falava apenas guarani, então Gustavo e Jorge transmitiram minhas perguntas nesse idioma e traduziram suas respostas para o espanhol. Margarita me ajudou com quaisquer dificuldades que eu tivesse com a forma paraguaia do espanhol, um tanto staccato.

Ceferino relatou que nasceu na aldeia em 1902 e que seu pai se mudou para lá em 1875, após a devastadora guerra com Argentina, Brasil e Uruguai, na qual 90% da população masculina adulta paraguaia foi morta. Ele nunca tinha visto a arara azul, embora tivesse visto a vermelha (Ara chloroptera). No entanto, seu pai lhe contou sobre isso. Ele alegou que seu pai disse que se alimentava dos frutos verdes frescos da "palmeira dos cocos" ( Acrcomia totai ) da árvore. Não se alimentava de frutas que caíam no chão por serem muito duras. Esta foi uma observação interessante, já que Azara comentou em 1802 que acreditava que o bico e o céu da boca da arara eram fracos demais para lidar com nozes de palmeira realmente duras.

Depois de ouvir esta fascinante evidência anedótica, voltamos a Pilar, onde jantaríamos com Andrés Contreras, que havia recebido financiamento da União Europeia para criar um centro de estudos dedicado ao "Homem e natureza no Paraguai". nós e como seu pai, o professor Julio Contreras, que mora em Corrientes, na Argentina, é um dos principais ornitólogos daquele país, eu estava realmente ansioso para conhecê-lo.

Julio me contou antes do jantar que havia viajado extensivamente pela província de Corrientes durante 15 anos compilando um atlas das aves de Corrientes e, portanto, poderia concordar com minha conclusão de que a arara-glauca não existia mais ali. Além disso, ele foi capaz de me contar sobre os últimos três avistamentos que havia feito na natureza.

Estes foram os seguintes:

1. Seu tio viu um pela última vez perto da cidade de Corrientes em 1919, ano de seu casamento.

2. Um funcionário do tio, falecido recentemente aos 90 anos, afirmou ter visto araras-glaucas nas matas de Riachuelo, ao sul da cidade de Corrientes, até por volta de 1930.

3. Um vizinho lhe contou que um par de araras glaucas fez ninhos em uma enorme e antiga árvore Enterolobium contortisiliquum  ao norte da cidade de Corrientes até 1932, quando desapareceram.

O professor Contreras concluiu relatando que a população local caçava e atirava nas araras da mesma forma que os camponeses do Reino Unido atiravam nas gralhas. Fiquei surpreso que esta informação reconhecidamente anedótica baseada em observações de primeira mão indicasse que as araras conseguiram sobreviver até o início da década de 1930 e tão perto da principal cidade de Corrientes. É verdadeiramente surpreendente que tão pouco apareça na literatura ou no folclore sobre a espécie, embora a sua presença deva ser conhecida tanto pela população local como pelos visitantes da área.

Gostaria de terminar com a tradução de uma história muito interessante sobre uma arara azul domesticada em uma estação missionária, contada pelo padre jesuíta Sanchez Labrador em 1767.

"Eles domam muito bem e fazem coisas surpreendentes. Havia uma arara azul muito mansa em uma aldeia chamada La Concepcion de Nuestra Senora, habitada por índios Guarani. Sempre que um missionário chegava de outra missão, a arara ia para seu alojamento. Se encontrasse a porta fechada, ele subia entre o lintel e a porta com a ajuda da aba e dos pés até chegar ao trinco. Em seguida fazia um barulho como se estivesse batendo e muitas vezes abria a porta antes que pudesse ser aberta por dentro. subia na cadeira em que o missionário estava sentado, pronunciava "guaá" três ou quatro vezes, fazia movimentos sedutores com a cabeça até que lhe falassem como se agradecesse a visita e a atenção. Depois descia e entrava o pátio muito contente. Se fizesse algo desagradável com outras aves domesticadas, o missionário o chamava. Ele então se aproximava submissamente e ouvia atentamente sua acusação, cujo castigo deveria ser uma surra. Ao ouvir isso, ele deitou-se de costas e posicionou os pés como se estivesse fazendo o sinal da cruz e o missionário fingiu bater nele com um cinto. Ficou ali quieto até ouvir as palavras "uma vez en doce" (onze de doze), que significava o décimo segundo, depois virou-se, levantou-se e subiu o manto até a mão do missionário, que havia pronunciado o castigo, para ser acariciado e falado com gentileza antes de sair muito satisfeito. "

Este relato mostra como o comportamento da arara-glauca deve ter sido semelhante em cativeiro ao de seu parente maior, a arara-azul.

Concluindo, gostaria de agradecer a Claudio Bertonatti, ao Dr. Navas e sua assistente Joanna no Museu de História Natural de Buenos Aires, a Judy Hutton em Mburucuya, a Lucy Acquino-Shuster pelo empréstimo do 4x4 no Paraguai, a Margarita Mieres, Cristina Morales e Jorge Escobar pela excelente companhia na expedição, Gustavo Granada, Andrés Contreras e seus pais, Julio e Amalia Contreras em Pilar, Ceferino Santa Cruz em Lomas e também Dietlind Kubein Nentwig, meu colega em Madrid, que me aconselhou nos aspectos linguísticos da o texto do século XVIII de Sanchez Labrador.

REFERÊNCIAS:
Pittman.T (1992) A Arara-glauca – Ainda existe? Papagaio Soc. Mag. Vol. 26 (11) 366-71

Pittman. T (1997) Algumas novas informações sobre a arara-glauca. Papagaio Soc. Revista Vol.(11)

sábado, 27 de janeiro de 2024

Neoplasias em psitacídeos

 

 Olá Araras Azuis! Hoje eu trago para vocês uma pesquisa acadêmica escrita pela médica veterinária Karina de Oliveira Araújo em julho de 2018, revisada pela orientadora Prof.ª Dr.ª Cátia Dejuste de Paula. Na época, essa moça ainda era estudante; atualmente, ela é formada. Bem, este artigo fala sobre as principais neoplasias em psitacídeos e o tratamento delas. É uma pesquisa bem interessante para se ler e estudar. Como estudante de medicina veterinária, eu amo ficar lendo essas coisas, sabe? Estudar me dá prazer e é tipo um hobby para mim.

Introdução

Neoplasias são descritas como lesões caracterizadas pela proliferação celular anormal, descontrolada, progressiva e autônoma, que podem ocorrer em qualquer tecido ou órgão (LATIMER, 1994; HORTA et al., 2013; GRESPAN & RASO, 2014). Porém sua autonomia não é total, pois dependem do organismo  em que se instalam para sua nutrição (KUMAR et al., 1994, citado por SINHORINI, 2008). Geralmente, as neoplasias possuem perda ou redução de diferenciação, por conta das alterações na diferenciação e multiplicação das células. O sufixo “-oma” designa neoplasia benigna, com algumas exceções como linfoma e melanoma; os termos carcinoma e sarcoma indicam, respectivamente, neoplasia maligna epitelial e neoplasia maligna mesenquimal. Para a diferenciação de neoplasias benignas e malignas são considerados: o grau de diferenciação e anaplasia, a velocidade de crescimento, invasão local e metástase (HORTA et al., 2013). As neoplasias benignas normalmente possuem células bem diferenciadas, semelhantes a células normais, baixo índice mitótico, crescimento lento, não recidivam após remoção cirúrgica, não infiltram ou desenvolvem metástase em locais distantes, e não há degenerações, necroses, hemorragias e ulcerações associadas. Já as malignas são, comumente, pouco delimitadas, têm alto índice mitótico, crescimento rápido, muitas vezes infiltram em tecidos adjacentes, e criam metástase em tecidos próximos e distantes, degenerações, necroses, hemorragias e ulcerações; as células são mais volumosas do que o normal e podem variar de bem diferenciadas a completamente indiferenciadas, dando a característica anaplásica à neoplasia (HORTA et al., 2013). Em aves, as neoplasias se assemelham às apresentadas por outros animais de companhia, por sua classificação e localização (GRESPAN & RASO, 2014). A maior parte dos relatos de ocorrência, características macroscópicas e microscópicas de neoplasias em aves foram realizadas com aves domésticas, especialmente as de produção (LATIMER, 1994). Aves de cativeiro, quando comparadas às de vida livre, apresentam um maior número de neoplasias diagnosticadas. Tal fato pode se dar por serem melhor observadas quanto ao aparecimento de processos patológicos, possuírem maior predisposição genética devido à alta chance de cruzamentos consanguíneos e também por tenderem a viver mais do que aves em vida livre (LATIMER, 1994; SINHORINI, 2008; GRESPAN & RASO, 2014).Dentre os casos de neoplasias encontrados em aves silvestres e domésticas, a maior parte foi descrita na ordem Psittaciformes (RATCLIFFE, 1933; LOMBARD & WITTE, 1959; REECE, 1992; SINHORINI, 2008). GARNER (2006) descreve 220 casos de neoplasia em 3545 Psittaciformes estudados, com 6,2% de prevalência. CASTRO et al. (2013), em estudo retrospectivo de afecções cirúrgicas em aves, observaram 30,15% de taxa de ocorrência de neoplasias dentre as cirurgias realizadas em tecidos moles, sendo que a ocorrência de neoplasias se deu exclusivamente em exemplares Psittaciformes. As neoplasias aviárias mais comumente relatadas são as de sistema tegumentar, variando de 12% a 70% da ocorrência nos relatos, destas as mais frequentes são lipoma e fibrossarcoma (LATIMER, 1994). REAVILL (2004) considera fibroma e fibrossarcoma comuns em aves (ao redor da cera e bico e em asas e pernas), lipoma e lipossarcoma comuns em periquitos-australianos, cacatuas, papagaios do gênero Amazona e calopsitas, e carcinoma de células escamosas em papagaios e periquitos-australianos. SINHORINI (2008) observou alta ocorrência de neoplasias em pele e subcutâneo, especialmente lipomas em subcutâneo de papagaios (32,4% dos casos de neoplasias). Na família Psittacidae, foram encontradas as porcentagens de 5,88% e 5,4% de neoplasias nos estudos feitos por CARVALHO (2004) e GODOY et al. (2009), respectivamente. Esses autores também encontraram a maior parte dos processos neoplásicos em Amazona aestiva (papagaio-verdadeiro), apesar de a espécie Melopsittacus undulatus (periquito-australiano) ser considerada a com maior ocorrência de neoplasias entre os psitacídeos (RATCLIFFE, 1933; LOMBARD & WITTE, 1959; LATIMER, 1994; SINHORINI, 2008). Estudos e relatos de psitacídeos incluem diversas neoplasias, sendo lipoma, fibrossarcoma, papiloma, hemangioma e hemangiossarcoma, colangiocarcinoma, linfoma e carcinoma as mais comumente encontradas (LATIMER, 1994). GODOY et al. (2009) relataram a ocorrência de colangiocarcinoma, colangioma, linfoma, hemangiossarcoma e carcinoma renal primário em sete psitacídeos, sendo que três deles apresentaram colangiocarcinoma. CARVALHO (2004) observou três animais com hepatocarcinoma, um com fibroma cutâneo e um com seminoma, demonstrando a possibilidade de variações na ocorrência de neoplasias nesses animais. Relatos de casos neoplásicos em papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) foram os mais encontrados. ELANGBAM & PANCIERA (1988) descreveram um caso de colangiocarcinoma, ARAÚJO et al. (2007) um caso de rabdomiossarcoma alveolar, CAMARGO FILHO et al. (2016) um caso de melanoma em úvea anterior e PACHALY et al. (2016) um caso de neurofribrossarcoma. Em araras foram relatados casos de neoplasia de células gingantes em osso e sarcoma em tecido mole da asa por AMANN et al. (2007) e BRAGA JUNIOR et al. (2016), respectivamente. FREITAS et al. (2014) descreveram a ocorrência de carcinoma de células basais em periquitoaustraliano e WEISSENGRUBER & LOUPAL (1999) relataram um caso de osteocondroma na parede traqueal de um Agapornis fischeri (agapornis). 

1 Lipoma



 Lipomas são neoplasias benignas caracterizadas pela proliferação de adipócitos bem diferenciados, de crescimento progressivo variando de lento a rápido. Frequentemente ocorrem nos tecidos subcutâneos do esterno (ao longo da quilha), asas, pernas e região abdominal, mas podem se desenvolver em qualquer parte do corpo, inclusive na cavidade celomática, onde se originam da gordura intratorácica e mesentérica. Podem ser únicos ou múltiplos, de coloração amarelada facilmente visível pela pele e, à palpação, são usualmente bem definidos (encapsulados), macios e não aderidos à pele (TURREL et al., 1987; LATIMER, 1994; GRESPAN & RASO, 2014). Lipomas são os tumores benignos mais comuns em psitacídeos, com incidência relatada de 10% a 40% em Melopsittacus undulatus e menor frequência em papagaios do gênero Amazona. Idade avançada, dietas de alto valor energético e obesidade são fatores predisponentes para o aparecimento dessas neoplasias. Massas muito grandes podem afetar a locomoção, voo e capacidade de empoleirar (TURREL et al., 1987; LATIMER, 1994; LIGHTFOOT, 2006; GRESPAN & RASO, 2014). Os lipossarcomas, formas malignas dos lipomas, são raros em psitacídeos. Já os xantomas são frequentemente reportados em psitacídeos, mas não são considerados neoplasias verdadeiras, são intumescências inflamatórias resultantes do acúmulo de macrófagos com lipídeos em seu interior, células gigantes e colesterol livre na pele, e podem estar associados a lipomas (TURREL et al., 1987; LATIMER, 1994; GRESPAN & RASO, 2014). 

2. Papiloma

 Papilomas cutâneos são neoplasias benignas importantes, acredita-se que induzidas por vírus do epitélio de aves de companhia. Papovavirus, Herpesvirus e Papillomavirus foram identificados por meio de microscopia eletrônica causando essas lesões. Duas síndromes clínicas diferentes foram identificadas; uma com partículas virais semelhantes às do Papovavirus e do Herpesvirus identificadas em papilomas pequenos, duros, brancos a acinzentados nos pés de araras, e a segunda manifestação clínica foi observada em Psittacus erithacus (papagaio-do-congo), com lesões proliferativas na face, ao redor das pálpebras e comissuras do bico, e foram associadas a vírus semelhante ao Papillomavirus. Também são comuns massas no trato digestório, principalmente em coana e cloaca (TURREL et al., 1987; GRESPAN & RASO, 2014).

 3. Fibrossarcoma



É o tumor maligno mais frequente em aves de estimação, surge dos fibroblastos e de outras células mesenquimais que produzem colágeno. Apresenta-se como massa firme branca a acinzentada, que muitas vezes infiltra em tecidos adjacentes, possui bordas irregulares e é frequentemente aderida à pele e ulcerada; pode induzir à hemorragia e infecção bacteriana secundária; metátases variam em 5% a 15% de chance de ocorrência (TURREL et al., 1987; LATIMER, 1994; REAVILL, 2004). Tecidos moles das asas, pernas e ao redor da cera e bico são comumente afetados, porém podem ocorrer em todo o corpo, assim como vísceras. Existem sarcomas indiferenciados que podem ser difíceis de classificar quanto ao tecido de origem. Sarcomas e fibrossarcomas são comuns em periquitos-australianos, araras e papagaios (TURREL et al., 1987; LATIMER, 1994; REAVILL, 2004; LIGHTFOOT, 2006). PACHALY et al. (2016) relataram um caso de neurofibrossarcoma em região cervical submandibular de um papagaioverdadeiro e BRAGA JUNIOR et al. (2016) relataram um caso de sarcoma em tecido mole da asa de uma arara canindé. 

4. Hemangioma e hemangiossarcoma



Hemangiomas são neoplasias benignas do endotélio vascular com formação de canais vasculares irregulares e espaços preenchidos por sangue. Podem ser externos ou internos, porém ocorrem com mais frequência em pele dos pés, pescoço, asas, cloaca e região inguinal e no baço. Macroscopicamente apresentam-se como lesões macias, de coloração avermelhada a púrpura ou negra e planas; quando sujeitas a traumas podem sangrar profusamente. Hemangiomas parecem ocorrer mais comumente que os hemangiossarcomas em aves, sendo essa segunda forma a versão maligna do hemangioma. Pés, pernas, asas, bico e cloaca são locais comuns de hemangiossarcomas cutâneos, que são invasivos localmente e podem provocar metástases em locais distantes, incluindo pulmões, fígado e miocárdio (LATIMER, 1994; REAVILL, 2004; LIGHTFOOT, 2006; SINHORINI, 2008).

.5. Colangiocarcinoma



É uma neoplasia maligna originária do epitélio dos ductos biliares, tem característica agressiva, localmente invasiva e foi relatada como capaz de desenvolver metástases. É o tumor hepático mais frequentemente encontrado em aves mantidas em cativeiro, sendo reportado por ELANGBAM & PANCIERA (1988) e GODOY et al. (2009) em Amazona aestiva. Sinais clínicos específicos não são frequentes, porém podem ser observados emagrecimento, fraqueza, ataxia, hepatomegalia, tremores e convulsões, sendo que geralmente as aves apresentam sinais agudos ou são encontradas mortas. Na avaliação macroscópica o fígado pode estar aumentado e com nódulos firmes, de tamanhos variados e coloração esbranquiçada a amarronzada distribuídos pelo parênquima (ELANGBAM & PANCIERA, 1988; LATIMER, 1994; REAVILL, 2004; SINHORINI, 2008; GODOY et al., 2009).

 6. Linfoma



Neoplasia maligna originária de tecido linfoide periférico, comumente apresenta-se como como uma doença multissistêmica disseminada, caracterizada pelo desenvolvimento de massas de tecido branco-amarelado ou de características sarcomatosas, envolvendo todos os tecidos e órgãos do corpo, inclusive a medula óssea. As vísceras mais frequentemente acometidas são fígado, baço e rins, e a manifestação em locais isolados é rara, mas pode ocorrer na pele. É uma das neoplasias linfoides mais comuns de serem encontradas em aves. Um sinal clínico comumente associado ao linfoma com massa retrobulbar é a exoftalmia, pois existem agregados linfoides nesta região (LATIMER, 1994; REAVILL, 2004; LIGHTFOOT, 2006; GODOY et al., 2009).

7. Carcinoma de células escamosas 



O carcinoma de células escamosas é uma neoplasia maligna das células epiteliais escamosas, mais comum em calopsitas e psitacídeos como papagaios, periquito-australiano, agapornis e arara. Já foi descrita na pele da cabeça, pálpebras, peito, pescoço, asas, glândula uropigiana e ao redor do bico e no trato digestório superior (bico, cavidade oral, esôfago, inglúvio e proventrículo); todos estes são considerados sítios primários de ocorrência do carcinoma de células escamosas (TURREL et al., 1987). REAVILL (2004) afirma que existe uma tendência do desenvolvimento dessa neoplasia em locais de irritação crônica. O tumor é geralmente mal definido e muitas vezes aparece como uma ferida não cicatrizante, consiste em lesões crostosas e ulceradas; também pode apresentar-se como múltiplas massas elevadas com depressão ou ulceração central. É uma neoplasia muito invasiva, porém metástases distantes do foco primário são raras (TURREL et al., 1987; GRESPAN & RASO, 2014). Em geral, carcinomas em órgãos internos também são relativamente comuns e descritos com certa frequência em psitacídeos, alguns exemplos são carcinomas renais, gástricos, esplênicos, neoplasias em ovário e adenocarcinomas em fígado, ductos biliares e pâncreas (TURREL et al., 1987; LATIMER, 1994; REAVILL, 2004; LIGHTFOOT, 2006; SINHORINI, 2008; GRESPAN & RASO, 2014). GODOY et al. (2009) demonstram a ocorrência de carcinoma renal primário em um periquito-australiano e FREITAS et al. (2014) relataram um carcinoma raro de ser encontrado em aves, o carcinoma de células basais na pele da asa de um periquito-australiano. 


Diagnóstico

O histórico e a anamnese completos do paciente são de extrema importância para a seleção adequada de exames diagnósticos e tratamentos a  serem estabelecidos. Também é fundamental o exame físico da ave, palpação cuidadosa da neoplasia para verificar sua consistência (firme, macia ou flutuante) e se há aderências a outros tecidos, mensuração da massa em três dimensões e registro da sua localização exata. Um exame neurológico que inclua a avaliação dos padrões de marcha e de voo pode auxiliar no diagnóstico de lesões no sistema nervoso central ou periférico (TURREL et al., 1987). Lipomas geralmente são facilmente reconhecidos por veterinários experientes apenas por sua consistência, aparência macroscópica e história clínica com conhecimento de dieta inadequada do animal (GARNER, 2006). Exames auxiliares como hemograma, bioquímico e radiografias auxiliam na determinação da conduta clínica a ser adotada. O hemograma pode apontar alterações no número de hemácias e leucócitos, como anemia, leucopenia e leucocitose, presença de células tóxicas ou degeneradas. Detecção de linfocitose e observação de números variáveis de linfócitos imaturos (neoplásicos) no hemograma pode auxiliar no diagnóstico de neoplasias linfoides (LATIMER, 1994). Enzimas séricas elevadas podem ser úteis na identificação de neoplasias internas ou doença metastática. E quando os tumores se originam ou são adjacentes a ossos, radiografias da área são indicadas, para determinação da localização e grau de comprometimento ósseo e dos tecidos moles. Em casos suspeitos de neoplasias malignas, radiografias de corpo inteiro devem ser feitas para detecção de metástases antes de selecionar e iniciar tratamentos (TURREL et al., 1987). Todos os tumores devem ser citologicamente ou histologicamente examinados antes do tratamento, para que a quantidade máxima de informação esteja disponível ao tomar uma decisão terapêutica. O exame de citologia por meio de Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF) ou imprint de tumores ulcerados ajuda a diferenciar massas neoplásicas de não neoplásicas e neoplasias benignas de malignas. A biópsia excisional (retirada de todo o tumor) com margens de tecido normais é ideal, pois além de diminuir a probabilidade de recidiva da neoplasia fornece tecido normal suficiente para histopatologia 13 comparativa. Biópsia incisional e punção com agulha fina podem ser feitas em casos de tumores muito grandes, invasivos e internos (TURREL et al., 1987). Algumas coletas de amostras neoplásicas podem levar a resultados errados ou inconclusivos. Como no caso de lipomas, muitas vezes não é possível distinguir lipomas e lipossarcomas de maneira fácil com citologia aspirativa, sendo o diagnóstico definitivo feito por meio da extração cirúrgica total (GRESPAN & RASO, 2014). Após a exérese, a neoplasia ou a parte retirada deve ser imediatamente acondicionada em recipientes grandes o suficiente para sua acomodação, com volume de fixador histológico cerca de 10 a 20 vezes maior do que o diâmetro do material, para que ocorra fixação adequada. O fixador mais utilizado é a solução de formol tamponado a 10%. A coloração por hematoxilina e eosina é utilizada para avaliação histopatológica, e então observa-se características de malignidade (delimitação da neoplasia, status de diferenciação, anisocitose e anisocariose, índice mitótico) e origem do tecido neoplásico (HORTA et al., 2013). Se não for possível a determinação da origem da neoplasia por meio da histologia, como em tumores indiferenciados, se faz necessária a realização de imunoistoquímica. Vimentina, citoqueratina AE1/AE3, CD68 e 1A4 são exemplos de marcadores imunoistoquímicos de células mesenquimais, células epiteliais, macrófagos e células musculares lisas, respectivamente (GODOY et al., 2009; HORTA et al., 2013).

Tratamento e prognóstico

Em aves, o tratamento de neoplasias é pouco documentado. A maior parte dos relatos de protocolos de tratamento é anedótica ou envolve apenas um paciente, assim como muitos não são publicados. Frequentemente o tratamento é baseado no de outras espécies domésticas, em geral, a excisão cirúrgica é recomendada em casos de tumores sólidos, enquanto os processos neoplásicos sistêmicos (linfoma sistêmico, condições metastáticas) são tratados de maneira mais eficaz com o uso de quimioterapia sistêmica (LIGHTFOOT, 2006). O objetivo do tratamento é erradicar completamente a neoplasia, garantindo a função normal do órgão ou tecido. O tipo, localização e grau de infiltração do tumor, além da condição física da ave, são fatores que influenciam na escolha do tratamento. A extração cirúrgica ampla é a opção mais adequada para a maioria das neoplasias benignas e malignas de tamanho pequeno. Recomenda-se a retirada de pelo menos 0,5 cm de tecido normal além da margem palpável do tumor, porém o tamanho do paciente e a localização da neoplasia podem limitar o grau de ressecção cirúrgica (TURREL et al., 1987). A amputação pode ser utilizada em casos de neoplasias muito invasivas, infiltradas e grandes em membros (SINHORINI, 2008). Em todos os procedimentos cirúrgicos, biopsiais e punções é de extrema preocupação a hemostasia, pois os tumores normalmente são muito vascularizados e podem causar hemorragias profusas (HORTA et al., 2013). TURREL et al. (1987) descrevem a criocirurgia e a hipertermia como métodos alternativos utilizando a temperatura local para causar necrose e destruição de tecidos anormais. As indicações para o uso da criocirurgia são pequenos tumores dérmicos, orais e cloacais e citorredução de neoplasias grandes. Contudo, relatos com estas técnicas não são comuns em aves. A radioterapia é eficaz em neoplasias superficiais (menos de 3 mm de espessura), que podem ser tratadas com partículas de estrôncio-90, irídio-192 e iodo-125 selados em cápsulas de aço, para irradiação pós-operatória e implantados cirurgicamente em tumores superficiais ou profundos para concentrar a radiação no tecido tumoral (TURREL et al., 1987). LIGHTFOOT (2006) afirma que em casos onde a exérese total da neoplasia é difícil ou não é possível, podem ser utilizadas as formas alternativas de terapia local, incluindo radiação de feixe externo (cobalto 60 ou acelerador linear), terapia fotodinâmica, crioterapia e aplicadores de radiação manual. Para neoplasias disseminadas, como neoplasias linfoides ou tumores com metástase, é indicada a quimioterapia. Alguns agentes quimioterápicos são a ciclofosfamida, lomustina, antiinflamatórios esteroidais (prednisona e prednisolona), vincristina, doxorrubicina, cisplatina, carboplatina e L-asparaginase 15 (LIGHTFOOT, 2006). Porém a maioria dos quimioterápicos não é testada em aves, assim como não há protocolos de tratamento apropriados e toxicidades limitantes de dose bem definidos. Segundo TURREL et al. (1987), antiinflamatórios esteroidais foram utilizados para reduzir o volume de neoplasias como leucose linfoide e do linfossarcoma em aves, e existem relatos anedotais de sua utilização e eficácia. Algumas neoplasias foram relatadas com tratamentos eficazes. O lipoma pode regredir e tornar-se autolimitante com tratamento de obesidade em psitacídeos, evitando cirurgias (GILL, 2001, citado por GRESPAN & RASO, 2014; REAVILL, 2004). Tratamentos com remoção cirúrgica associada à quimioterapia com cisplatina ou carboplatina foram realizados em casos de adenocarcinomas ovariano e renal e colangiocarcinoma (LIGHTFOOT, 2006). ARAÚJO et al. (2007), BRAGA JUNIOR et al. (2016), PACHALY et al. (2016) e CAMARGO FILHO et al. (2016) realizaram excisões cirúrgicas de rabdomiossarcoma, sarcoma, neurofribrossarcoma e melanoma, respectivamente, em aves e obtiveram êxito, sem recidivas e sem necessidade tratamentos adicionais. Assim como as terapias, os prognósticos de neoplasias específicas são ainda limitados na área de medicina veterinária de aves. Fibrossarcomas, por exemplo, que são localmente invasivos, raramente desenvolvem metástases e têm potencial de recidiva moderado a alto, são considerados de prognóstico reservado, e os lipomas e mielolipomas com bom prognóstico quando realizada a excisão cirúrgica (REAVILL, 2004). LATIMER (1994) classifica as neoplasias do sistema nervoso central com prognóstico ruim.


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