domingo, 17 de novembro de 2013

A VERDADEIRA HISTORIA DA ARARINHA AZUL. 
A ararinha-azul do filme Rio, em cartaz desde o último fim de semana, tem sua versão na vida real. Com algumas diferenças da ficção, claro, e infelizmente sem final feliz, a história do último exemplar da espécie na natureza ocorreu na década de 90, na caatinga. Era um macho, vivia em Curaçá, no Sertão da Bahia, e não na exuberante Mata Atlântica do Rio de Janeiro. Em agosto de 1994, um comitê internacional que se dedicava à conservação da espécie transferiu para o local uma fêmea de um criadouro particular do Grande Recife. Num enorme viveiro, onde permaneceu 7 meses, ela exercitou o vôo e comeu frutas da caatinga. Em março de 1995, ocorreu a soltura definitiva. Pouco tempo depois, a ararinha desapareceu, supostamente devorada por um gavião, sem nunca ter pareado com o macho. Acompanhei a transferência para Curaçá com o fotógrafo Alexandre Belém, para o Jornal do Comercio. Ele, na verdade, já estava casado com uma arara maracanã. É que os psitacídeos - grupo de aves integrado por araras, papagaios, periquitos e jandaias - costumam ser monogâmicos. A fidelidade é tanta que após a morte do parceiro o viúvo continua sozinho. Em 2000, foi a vez do macho desaparecer. Hoje há ararinhas-azuis, conhecidas como Cyanopsitta spixii pela ciência, apenas em zoológicos e criadouros particulares como o Loro Park, das Ilhas Canárias (possessão espanhola na costa Africana), e o de um sheik do Catar, no Oriente Médio. No Brasil, apenas em São Paulo. A população cativa é estimada em 78 animais. Na animação, o macho (Blu, criado pela livreira Linda numa cidade de Minnesota - EUA) é levado até a fêmea, Jade, que vive num centro de reabilitação de aves silvestres no Rio de Janeiro, sob os cuidados do ornitólogo Túlio Monteiro. Blu, que nasceu no Rio, foi parar em Minnesota pelas mãos do tráfico de animais, o mesmo que dizimou a população nativa de ararinhas-azuis da caatinga. Como eu sei que a ararinha do filme é a mesma da caatinga? Além da semelhança, na cena em que Túlio se prepara para desfilar no sambódromo, ao lado de Linda, ambos fantasiados de ararinha-azul, ele imita a ave e diz se sentir um verdadeiro cyanopsitto spixii. Algumas diferenças entre o filme e a história real - As ararinhas-azuis viviam na caatinga, não na Mata Atlântica, como no longa-metragem americano dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha. - Na animação, a ararinha fêmea (Jade) é menor, mais clara e tem menos topete que o macho (Blu). Entre os psitasídeos, a regra é machos e fêmeas serem iguais, ou seja, não há dimorfismo sexual. - Na tentativa de pareamento da vida real, uma fêmea de um criadouro do Grande Recife foi levada até o macho,em Curaçá, no Sertão baiano. No filme, um macho cativo de Minnesota (EUA) é transferido para o Rio, para um criatório conservacionista da espécie. - Os psitasídeos do filme falam e até latem. Na realidade, poucas espécies desses grupos reproduzem a voz humana. E a ararinha-azul (litte blue macaw em inglês) não está nessa lista. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário